O Mapa da Alma em resposta ao desassossego humano

O Pai da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung, de entre um legado vastíssimo, deixou-nos o Mapa da Psique/Alma Humana, permitindo-nos identificar as diferentes camadas da mente e reconhecer entusiasticamente como funcionamos plenamente connosco, com os outros, com os contextos e com algo que nos transcende e por isso tanto inquieta.

A inquietude ou desassossego humano revela-nos um apelo latente e natural da psique, que acumula na segunda fase da vida, para nos desenvolvermos psicologicamente, tornando-nos em tudo aquilo que somos capazes de ser, sentindo-nos plenos, deixando de procurar fora o que reside em nós.

O que mostramos aos outros e estes reconhecem em nós é apenas a camada mais superficial da nossa psique, a Persona, que representa até 10% da nossa totalidade, ou seja, a camada consciente (o que sabemos de imediato) e o pré-consciente (que precisamos de algum tempo para lembrar da informação). 

O que achamos que somos, a nossa identidade e tipicamente escondemos dos demais, como sejam: as nossas memórias, os desejos, as capacidades, as fragilidades, a autoimagem e as reflexões mais intrínsecas e profundas, compõem o nosso ego, que estando bem estruturado, permite-nos dialogar com outras camadas mais profundas e trazer sinergias ao contexto psíquico. 

O que nos irrita ou incomoda nos outros, contextos e em situações do dia-a-dia, respeita à(s) nossa(s) sombra(s). Tudo aquilo que dizemos de boca cheia "não sermos, nem pensar". Se nos incomoda, temos alguma característica do aspeto sombrio que precisámos de desenvolver até que deixemos de ser incomodados pela pessoa/contexto/situação. O verdadeiro trabalho de desenvolvimento pessoal encontra-se nesta camada psíquica.

Ao percecionarmos as personagens/complexos/arquétipos psíquicos, que nos fazem reagir de forma padronizada e causam desordem na nossa psique, podemos retirar-lhes energia/força para conseguirmos avançar assertivamente, ou ativarmos outras competências menos desenvolvidas e que precisam de ser treinadas para progredirmos.

O que nos atrai no outro e nos deixa apaixonados são características que temos pouco desenvolvidas na  psique consciente. Tipicamente o homem é atraído pela anima- o seu lado feminino, cuidador, a sua alma. A mulher pelo animus-o seu lado masculino, assertivo pouco desenvolvido nela e já fomos emaranhados numa relação inconsciente, até que reconheçamos ter em nós o que admirámos no outro, para escolhermos relações de forma consciente, não para nos darem o que somos capazes de dar-nos, mas sim pelo prazer de partilharmos momentos e talvez a nossa caminhada.

O Self para Jung é a totalidade do homem, a soma dos seus conteúdos conscientes e inconscientes, o que sabe e o que desconhece, sendo a personagem central na narrativa da Psicologia Analítica. É a fonte da vida psíquica e por isso o reservatório da experiência espiritual, que nos dá sentido e nos permite criar um significado em relação ao que nos acontece. O instinto religioso é humano (Jung), é uma necessidade inata de nos ligarmos com algo maior que nós próprios (Wigglesworth). A relação com o Self é assim uma vivência espiritual (transpessoal) em busca da totalidade, é o sol psíquico.

Isabela Eunice


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