"Que lugar ocupa o corpo" no funcionamento humano?

2021-10-21

O corpo metaforicamente é o nosso hardware humano, composto por um software inigualável, que pode estar off, ignorando-se todas as suas funcionalidades, ou on, ligado em rede conscientemente, ativando-se o(s) antivírus do que é sombrio na intrínsecidade da mente/psique/alma humana, que é eterna nas minhas crenças fundamentadas com diferentes práticas de intimidade intra, inter e sistémica psíquica. A grande verdade é que só podemos mudar algo que tenhamos consciência. Só começamos a utilizar a internet nos dispositivos informáticos quando reconhecemos a sua existência e potencialidades, comportando como tudo inúmeros riscos e imprevistos. A dualidade da existência em movimento, a chamar-nos seres racionais e emotivos, para o centro, o equilíbrio e a prática da sanidade.

Fernandes (2021) refere as violentas lições do corpo, sendo que deveríamos trazer a consciência corporal para a academia e para as práticas clínicas, sendo muito redutor olhar-se apenas para a consciência cognitiva, como se fossemos só memórias, pensamentos e perceções, racionalizando-se sobre os impulsos corporais e sobre as nossas vidas, quando é no corpo que tudo acontece. Defende o conceito do eu corporal. O corpo está presente na publicidade e nos encontros sociais, dando-se demasiada importância à imagem do corpo, ao olhar ao espelho antes de sair de casa, pensando na imagem que vamos passar aos outros, querendo transformar um corpo biológico numa passerelle das vaidades. Na marquesa damos conta do corpo. Quando o corpo fala vamos ao médico. 

Soeiro (2021) toca na necessidade do corpo encontrar o seu refúgio interior, através do repouso, sendo que a sesta é um encontro com o corpo biológico, a necessidade de fechar os olhos e religar-se interiormente. Aceitável fazê-lo no Alfa Pendular, mesmo que de boca aberta, mas visto como uma prática clandestina no contexto profissional. O corpo existe no mundo social e o mundo social no corpo. A forma de nos libertarmos psicologicamente é através do corpo.

Sobrado (2021) refere-se ao corpo do ator no teatro, um local onde nada é mais espectral do que o corpo. O teatro representa o espaço ocupado, corpos que passam no palco e corpos que observam. Um espaço ocupado, que se transforma de corpos simultâneos, em direto, ao vivo e em centelha. Percebemos através do palco, a vulnerabilidade do corpo. O palco faz do corpo um lugar de revelação. O corpo em movimento. O apelo ao carnavalesco. Tudo no teatro está impregnado de memórias da humanidade, alimentando processos de repetição e reincidência. Vamos ao teatro ver os espectros. Sentimento de retorno das coisas que já havíamos visto.

Castellanos (2021), explica a importância de termos consciência de como o corpo funciona, para sabermos utilizá-lo. Informa que o nosso cérebro possui os recetores dos sentidos, que captam a informação que chega do exterior, traduzida pela linguagem biológica que é a eletricidade, chegando ao cérebro através dos nervos. Nada acontece de forma instantânea. As ondas sonoras, por exemplo, que chegam ao nosso corpo, passam por diferentes estações, sendo que desde que um emissor transmite uma mensagem, demora um tempo a chegar aos ouvidos do recetor e este tomar consciência. Primeiro reconhece-se as palavras, as memórias, as emoções, que nos informam como estamos a reagir corporalmente de forma inconsciente, de acordo com o que percecionamos. O corpo sabe de imediato o que a mente ainda tem inconsciente. O corpo é o marcador somático. Se tenho consciência corporal, estou a preparar-me antes que se tenha expressado a emoção. Por isso, devemos identificar as emoções e reconhecê-las no corpo. Nas escolas, deve-se ensinar desde cedo, a reconhecer as emoções, questionando onde está a alegria? Onde está o medo? Onde está a raiva? Onde está a tristeza? Trata-se de interpretarmos constantemente a postura do corpo, sendo importante para o nosso cérebro saber como estamos. Antes de sentirmos algo, há uma emoção que é instintiva, até que se torna pensamento, comportamento e o nosso resultado.

Carmo (2021) refere que no corpo nada é separado. O corpo é um todo dinâmico, que muda ao longo do tempo. Nele temos um tubo digestivo por onde entra e sai tudo o que consumimos e um tubo neural que capta toda a informação que recebemos de dentro do corpo e do exterior. Antigamente sem espelhos, o que é que as pessoas sabiam do seu corpo? Com o espelho começaram a ver-se e a identificar este(a) sou eu. Quando nos vemos ao espelho, vemos o olhar dos outros, questionamos se nos veem como queremos que vejam? Uma mulher gorda, grávida, magra, bonita ou feia, jovem ou de idade, não é na mesma um corpo? Olhamos da mesma forma para o corpo de um bebé, de uma criança, de um jovem, de um adulto ou idoso? O prazer e a doença estão no corpo.

Castellanos (2020) fala-nos de uma revolução científica, em pleno séc. XXI, descobre-se a comunicação permanente entre os nossos órgãos:

-No INTESTINO, temos a microbiota intestinal, que atua sobre o nosso sistema nervoso, endócrino e imunológico. A microbiota regula a atividade bioquímica do nosso cérebro, que regula o nosso estado de ânimo. Um estudo no sul da Irlanda, revela que o cérebro social, é a área do cérebro, que mais é influenciada pelo intestino, desde como nos comunicamos com os demais, como vemos e interpretamos o que nos sucede, sendo muito importante para nos entendermos. A microbiota é afetada essencialmente: pela dieta, exercício físico, se nascemos de parto normal ou cesariana, se tomamos leite materno ou não, a qualidade do ar que respiramos, a quantidade de antibióticos que já tomamos e se somos homens ou mulheres.
O nosso cérebro alimenta-se do que nos alimentamos e de como nos relacionamos com o interior e o exterior.
Estas descobertas, fazem-nos tomar consciência da importância de termos estilos de vida saudáveis, porque isso influencia direta ou indiretamente a nossa mente.

-Quanto aos PULMÕES, sabe-se o que se sabia há 2000 anos, a respiração influencia o cérebro, molda os nossos estados mentais. Um estudo realizado nos Estados Unidos, indica-nos que o cérebro pela via anatómica, sabe como estamos a respirar, se é pelo nariz ou pela boca, se é por ambas as narinas ou só por uma. A forma como estamos a respirar influencia a n/ atenção, memória e como respondemos perante uma emoção. Importa respirar mais pelo nariz do que pela boca. Observar a n/ respiração ao longo do dia. Respirar de forma mais lenta, acalma muito o cérebro, apaziguando as respostas emocionais do n/ cérebro. Os sistemas emocionais do nosso cérebro, da zona limbo, a respiração nasal é a que consegue acalmar-nos e filtrar melhor o ar que vem do exterior.

-Como interage o cérebro com o coração? Um estudo na Universidade de Paris, diz-nos que percebemos o mundo exterior quando o nosso coração e o cérebro se sincronizam. Quanto mais comunicamos com o nosso cérebro, através do coração, mais pensámos em nós mesmos. “Segue o teu coração, ele sabe onde levar-te”. Esta tomada de consciência leva-nos a cuidar o que levamos dentro. Somos escultores do nosso corpo e tudo o que ele alberga. Num espetáculo, os corações dos espectadores, sincronizam-se, passa informação de uns para outros, independentemente de as conhecermos.

Saramago já dizia que dentro de nós há uma coisa, que não tem nome, essa coisa é o que somos. Sugeria que não tivéssemos pressa, mas que deixássemos de perder tempo. Delicie-se a apreciar tudo aquilo que é, o que aprecia e tudo o que lhe incomoda. Jung dizia que é na sombra que encontramos a luz.

 

Isabela Eunice


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